De um lado, o Ministério Público, além de Botafogo e Fluminense; do outro, os demais clubes do Rio de Janeiro, incluindo Vasco e Flamengo, sob o apoio da Federação de Futebol do Rio de Janeiro. O possível reinício do Campeonato Estadual nas próximas semanas vem monopolizando o noticiário esportivo do Rio de Janeiro e promovendo intenso debate entre os torcedores cariocas. Desde a paralisação do torneio – na verdade, de todas as competições futebolísticas no País -, em meados de março, em virtude da declaração de pandemia do coronavírus, discute-se uma data considerada razoável para que a bola possa voltar a rolar nos gramados cariocas.

 

Há cerca de 10 dias, o Presidente do Vasco esteve em Brasília com o Presidente da República, buscando apoio político para que os jogos fossem retomados, até mesmo na Capital Federal. O fato foi comentado – e criticado – aqui no Saudações Vascaínas, em ótimo texto do colaborador Rodrigo Machado. Nesta semana, em mais uma reunião envolvendo os mandatários cruz-maltino e rubro-negro com uma autoridade pública, no caso, o Prefeito do Rio de Janeiro, desta vez na presença do Presidente da FFERJ, ficou alinhavado o retorno do “Cariocão” para meados de junho. O encontro teve a abstenção de representantes de Fluminense e Botafogo, que criticaram a ação, e de mais uma instituição: o Ministério Público editou uma recomendação para a suspensão da medida e elevou a discussão para o âmbito jurídico.

 

Desde ontem, o Brasil passou a contabilizar mais de meio milhão de pessoas já contaminadas por COVID-19, com quase 30 mil mortes. O Rio de Janeiro, com cerca de 45 mil casos e 5 mil mortes, é o segundo colocado neste indigno ranking. Os números do contágio seguem crescendo de forma assustadora e nada parece indicar um recrudescimento desta terrível situação para os próximos 30 dias, ao menos. Neste cenário, por ora, ainda soa insensato, para usar um termo brando, sequer cogitar que atletas, profissionais do esporte e jornalistas sejam submetidos aos riscos de contágio por coronavírus, por mais ajustados que sejam os protocolos de saúde e segurança que se pretenda adotar. E, mesmo sem público presente nas arquibancadas de Maracanã, Engenhão e São Januário – os 3 estádios indicados para a prática do futebol carioca neste momento -, a realização de partidas de futebol certamente estimularia a aglomeração de incautos torcedores em bares e outros estabelecimentos comerciais porventura em funcionamento para atender essa demanda absurda.

 

É compreensível que os clubes têm uma folha salarial a adimplir, não apenas em relação aos seus jogadores e comissão técnica, mas principalmente no tocante aos funcionários mais humildes dos seus quadros. Entretanto, qualquer decisão a se tomar deve considerar prioritariamente a vida, a saúde e a segurança dessas pessoas e de seus familiares. Enfim, espero que as autoridades públicas e esportivas cheguem a um consenso racional sobre o tema. Particularmente, estou com muitas saudades do Vascão. Mas ainda prefiro ver os gols e lances do meu time em replay de jogos antigos, se isso for necessário para evitar uma tragédia ainda maior do que a que nossa sociedade já vem sofrendo.

 

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