Por Mauro Amorim Filho

Essa é uma expressão popular muito comum no Nordeste, mas que é originária de Portugal. Ela significa algo como “nada é tão ruim que não possa piorar”; o sentido figurado é óbvio: pior até do que cair de um cavalo é, já no chão, ainda levar coice do animal.

Acompanhando com tristeza a atual situação do Vasco, não pude deixar de me recordar desse “provérbio” (homônimo à música dos Paralamas do Sucesso, presente no álbum Hey na na). A claudicante campanha do Gigante da Colina na Libertadores deste ano – em que o time já havia sofrido duas goleadas – teve seu quase desfecho (falta um jogo) com um “atropelamento” sofrido diante do Cruzeiro, em São Januário. Além das chances de classificação para a próxima fase da competição internacional, o Vasco perdeu também o controle emocional. Não, não me refiro aos torcedores que brigaram nas arquibancadas nem aos que invadiram o campo no dia seguinte para cobrar satisfações da diretoria e dos jogadores.

Refiro-me ao desequilíbrio do próprio Vasco.

Um clube que, durante décadas, foi gerido por uma administração absolutista, perpetuada por “eleições” que só referendavam uma estrutura de poder viciada, em que o Vasco era uma única pessoa. E que, mesmo quando viu seu “trono” ocupado por seu maior ídolo, continuou estagnado em seu próprio mecanismo de poder, consolidado pelo amadorismo na condução política.

 

Eis que, após uma conturbada eleição, igualmente eivada de suspeitas quanto à lisura de seu processamento – mormente no que concerne à famigerada “urna 7” –, o presidente eleito pelos sócios do clube não teve sua escolha homologada por seus conselheiros, fato inédito na história do Vasco. Mais uma “jogada” política para a coleção de “gols contra” morais da instituição.

Muito bem, uma vez empossado, o presidente legal, mas “ilegítimo”, tenta dar ao Vasco uma nova cara. Como? Se ele próprio, para derrubar do cavalo o candidato preferido pela maioria dos vascaínos, uniu-se aos velhos cavaleiros do apocalipse cruzmlatino. Ora, não deveria ele suspeitar que, na primeira oportunidade em que a roda da temperança não estivesse mais girando, seria ele o alvo da espada fria e sórdida dos seus “aliados”?

Campello começa a levar o coice, então. Treze vice-presidentes do Vasco entregaram seus cargos, a oposição à sua gestão torna-se ferrenha e até uma proposta de “impeachment” é aventada (há fundamento?).

No meio disso tudo, e de um elenco recheado de jogadores fracos física e/ou tecnicamente, e de uma estrutura financeira caótica, e de um clube entregue à especulação de empresários, e de uma carência de método de formação de jovens atletas e de recuperação eficaz de jogadores lesionados, no meio disso tudo está o clube pelo qual eu me apaixonei na infância e que já me deu tantas alegrias com troféus, gols espetaculares e ídolos inesquecíveis. Esse clube, o Vasco da Gama, parece ter se enfiado num buraco tão profundo que as terríveis quedas para a Série B parecem ter sido meros tropeços diante do panorama caótico que acabo de descrever.

O que vem depois do coice?

/+/ Saudações Vascaínas /+/