Hoje, 20 de novembro, se celebra no Brasil o Dia da Consciência Negra. Desde 2003 a data foi acrescida ao calendário escolar, em referência ao dia da morte de Zumbi, líder do Quilombo de Palmares, que lutou para preservar o modo de vida dos africanos escravizados que conseguiam fugir da escravidão. Sua importância está no reconhecimento dos descendentes africanos na constituição e na construção da sociedade brasileira. Relembrar o passado se faz necessário num país que não cultiva suas memórias. Não aprendemos nada com o passado, por isso continuamos a repetir os mesmos erros. O grande sociólogo Florestan Fernandes, em sua obra “A Integração do Negro na Sociedade de Classes”, já apontava no erro de formatação do processo da abolição, pois não foram dadas aos negros as mesmas oportunidades que eram dadas aos brancos, algo visto e comprovado por dados estatísticos até hoje.

Mas o que tem o Vasco a ver com isso? Bom, o Cruz-maltino é um caso à parte nessa história. Talvez, o vascaíno seja um dos poucos torcedores no Brasil que se orgulha de sua história, que vai muito além de conquistas nos campos. O Vasco NÃO foi o primeiro clube a ter negros em seu time, porém FOI PIONEIRO NA LUTA para que negros, mestiços e pobres pudessem jogar esse esporte que era até então praticado somente pelas elites. E pior: os negros eram limitados, sob pena de expulsão, se ousassem tocar, empurrar ou esbarrar nos adversários. E daí, para se adaptarem a essa imposição, criaram o drible.

Segue abaixo a citação do Jorge Antônio Soares em sua tese de Doutorado:

Quando começaram a jogar futebol por aqui, os negros não podiam derrubar, empurrar, ou mesmo esbarrar nos adversários brancos, sob pena de severa punição: os outros jogadores e até os policiais podiam bater no infrator. Os brancos, no máximo, eram expulsos de campo. Esta redução dos espaços dentro das “quatro linhas”, subproduto de uma situação social obrigou os negros a jogarem com mais ginga, com mais habilidade, evitando o contato físico e reinventando os espaços. Sim, porque o drible não é outra coisa que a criação de espaço, onde o espaço não existe. Indubitavelmente, foi o jogador negro que imprimiu no futebol brasileiro um estilo próprio de magia e arte, diferente das formas arcaicas do jogo de bola, bem como da sua descendência inglesa imediata. (Futebol, raça e nacionalidade no Brasil: releitura da história oficial. Rio de Janeiro, UFG, PPGEF. tese de doutorado. 1998, p.170).

Além disso, para poderem jogar nos clubes de elite do futebol, os negros deveriam se submeter a situações como usar toucas para esconder o cabelo crespo e se maquiar com “pó de arroz” para clarear a pele e parecerem como os jogadores brancos. Nesta época,  o futebol era um esporte de classe: só os “bens nascidos” tinham acesso a ele, era “coisa de inglês”. Negros e mestiços só conseguiram ocupar seus espaços graças aos “embranquecimentos artificiais”. Foi o pó de arroz o mais usado pelos jogadores mulatos, como Carlos Alberto, Robson e o lendário Friedenreich que, além de usar pó de arroz, alisava o cabelo. O jornalista Mário Filho (em sua obra “O Negro no Futebol Brasileiro”) relata que foi importante a atitude de um clube que lutou para acabar com a segregação dos jogadores de origem popular: o VASCO DA GAMA! 

O Vasco estava preparando uma equipe para desestabilizar a hegemonia dos clubes de elite, representada pelas classes dominantes. Tanto que, com a saída do Vasco da Gama do campeonato de 1924, o público diminuiu muito, pois preferiu assistir a liga “extraoficial”, na qual o Vasco se fazia presente. O baixo público fez com que os clubes de elite convidassem o Vasco a participar da liga oficial de 1925, mas com muitas recomendações. Para Mário Filho, apesar de todas estas exigências da aristocracia, o time mestiço do Vasco da Gama de 1923 revolucionou o futebol da época. Como ele mesmo disse, NUNCA houve tanto interesse pelo futebol e uma torcida por um time!

Os camisas negras REVOLUCIONARAM O FUTEBOL BRASILEIRO!

Resposta Histórica: Vasco da Gama, o clube que abriu as portas do futebol para os negros | Esportes | EL PAÍS Brasil

 

O Vasco É GIGANTE, sua consciência o fez lutar contra o sistema. Os últimos 20 anos não podem apagar seu passado e sua história!

Pra fechar, segue letra de uma das mais belas músicas criadas por nossa torcida para exaltar nossa história:

Eu vou torcer
Aqui eu ergui meu templo para vencer
Eu já lutei por negros e operários
Te enfrentei, venci, fiz São Januário
Camisas Negras que guardo na memória
Glória, lutas, vitórias, esta é minha história

Que honra ser
Saiba eu sou vascaíno, muito prazer (jamais terá)
Jamais terás a Cruz, este é meu batismo

Eu tive que lutar contra o teu racismo
Veja como é grande meu sentimento
E por amor ergui este monumento

 

(+) Saudações vascaínas (+)