“O Patinho Feio” é um conhecido conto infantil de 1843, escrito pelo poeta dinamarquês Hans Christian Andersen, que trata da fábula de um filhote de cisne, chocado por engano em um ninho de pata. Rechaçado por seus pares, ele cresceu à margem dos outros animais e, somente na fase adulta, ao se deparar com a própria imagem refletida num lago, percebeu que se tratava, na verdade, de um belo cisne, digno de elogios por todas as demais aves.
O Vasco parece ter invertido a ordem da história em uma semana. Após um empate histórico contra o maior rival, em que os jogadores aliaram garra com qualidade na criação e conclusão de jogadas, o time cruz-maltino viu o “encanto” se quebrar ontem à noite, em São Januário. Em péssima atuação de praticamente todo o time, que foi inferior ao Goiás em boa parte do jogo, o Vasco até saiu na frente do placar, mas cedeu o empate nos acréscimos, com um gol contra bizarro do zagueiro Henríquez.
A partida começou e, mesmo em seu “ninho”, o Vasco já começou a ser pressionado pela fraca, mas ousada equipe esmeraldina, que criou 3 oportunidades claras de gol, todas barradas por Fernando Miguel. Pior: além de dar espaços na defesa, o Gigante era previsível e até preguiçoso na criação de jogadas de ataque, muito dependente das investidas de Fredy Guarín.
Não à toa, foi o volante colombiano, que já havia perdido um gol na marca do pênalti, quem abriu a contagem – logo após mais uma jogada perigosa do Goiás, concluída no travessão: aos 34 minutos, Guarín ganhou no corpo disputa na área e, meio desequilibrado, desviou a bola do excelente goleiro Tadeu. A pelota caprichosamente beijou a trave e entraria, se o arqueiro goiano, tal qual uma ave de rapina, não “voasse” em sua direção, dando-lhe um tapinha salvador. Felizmente, a bola voltou aos pés do camisa 13 vascaíno, que só teve o trabalho de empurrá-la para as redes adversárias.
O gol acalmou os ânimos da equipe e diminuiu o ímpeto dos visitantes até o fim do primeiro tempo. No intervalo, Vanderlei Luxemburgo sacou o inoperante Barcellos (de futebol feio, como pato ou como cisne!), colocando o jovem Alexandre Melo em seu lugar. O segundo tempo começou morno e Guarín seguia como o principal articulador da equipe, já que Marrony se atrapalhava com a bola e Rossi corria muito e pensava pouco.
Em sua primeira jogada de ataque na etapa complementar, o Goiás anotou um gol após uma outra ave entrar em cena: um frango de Fernando Miguel, em três atos: 1) não saiu no cruzamento para a área; 2) deixou a bola passar ao seu lado; 3) não mostrou reflexo na tentativa de evitar que ela cruzasse a linha do gol. Entretanto, orientado pelo VAR – de forma equivocada, a meu ver -, o árbitro anulou o tento esmeraldino, sob o fundamento de falta cometida cometida por Rafael Moura em quem? Guarín, sempre ele!
Logo após, livre (mas impedido), Rossi mandou na trave uma bola assistida por Ribamar – que substituíra Marcos Júnior. Todavia, quase no fim do tempo regulamentar, o próprio centroavante viria ser o protagonista de um capítulo ainda mais surreal na fábula vascaína – ainda que, paradoxalmente, crível: o camisa 9 do Vasco recebeu lançamento na intermediária e avançou inteiramente sozinho (exceto por Guarín, que o alcançou apenas para lhe dar a óbvia alternativa do passe). Mas, diante do goleiro Tadeu, Ribamar, autor do gol heroico contra o Flamengo, achou que (ainda?) era um belo cisne e conseguiu a façanha de “dar com os burros n´água”, chutando fraco para a defesa do arqueiro esmeraldino. O lance só não ficou mais feio porque o árbitro invalidou a jogada, acusando o impedimento do “pato”.
Esse conto infeliz somente poderia terminar como terminou. Acuado pelo Goiás, o Vasco sofreu o empate da forma mais fantasiosa possível: Tadeu (sim, o goleiro!), tentou, sem sucesso, um voleio na área cruz-maltina. A bola seguiu tão perdida quanto o nosso time até que Richard deu um bisonho balão pra trás. Rafael Moura desviou de cabeça para a pequena área e Henríquez enfiou o pé na bola, mandando um “pombo sem asa” e sem noção até o fundo das redes vascaínas.
O árbitro decretou o fim da peleja e a torcida cruz-maltina, que lotou São Januário e fez mais uma linda festa, novamente caiu no conto de um time que, por um breve momento neste campeonato, a fez crer que poderia ser capaz de voos maiores. Tudo não passou de ficção barata.
Notas:
Fernando Miguel: salvou a equipe com três boas defesas no primeiro tempo, mas falhou no gol anulado do Goiás e hesitou no início da jogada do gol de empate dos visitantes. Nota 6.
Cáceres: não comprometeu desta vez, mas não demonstra segurança. Nota 5. Foi substituído por Bruno Gomes, que pouco foi notado. Nota 5.
Henríquez: um horror, fez o gol contra mais bizarro da temporada cruz-maltina. Nota 0.
Ricardo: até travou algumas jogadas de ataque do Goiás, mas quase sempre de forma atabalhoada. Nota 4.
Danilo: só foi notado ao levar um cartão amarelo. Nota 1. Tanto que Luxemburgo percebeu que o tinha escalado e o substituiu, ainda no intervalo, por Alexandre Melo, que compôs melhor a marcação. Nota 6.
Richard: fraco, ainda “criou” a jogada que resultou no gol contra de Henríquez. Nota 2.
Raul: voluntarioso, tentou ajudar Guarín na criação de jogadas, mesmo sem sucesso. Nota 6.
Marcos Júnior: não repetiu a mesma atuação do jogo contra o Flamengo. Nota 5. Foi substituído por Ribamar, que voltou a ser… Ribamar. Nota 1.
Guarín: o “antagonista” do conto às avessas vascaíno, porque fez o gol, criou os principais lances de perigo da equipe e ainda participou da jogada que propiciou a anulação de um gol do Goiás. Nota 7,5.
Rossi: muita transpiração e pouca inspiração. Nota 6.5.
Marrony: confuso e afobado, atrapalhou-se nas jogadas de ataque. Nota 4.
Vanderlei Luxemburgo: acertou na escalação e até tentou ser ousado nas substituições, mesmo com o time em vantagem no placar. Nota 7.
/+/ Saudações Vascaínas /+/
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