A palavra epopeia veio do grego “epoiia” ou “epopoiós” e, originalmente, correspondia a um modelo de poema épico baseado em elementos históricos, entrelaçados com a lenda, o maravilhoso ou a Mitologia. Posteriormente, passou a ser assim chamado todo poema amplo cuja narração descreve e relata ações heroicas ou acontecimentos grandiosos e, na expressão coloquial, trata de qualquer sequência de acontecimentos incomuns, fenomenais ou de ações honrosas que provocam grande admiração.
Portanto, pra começo de conversa, a campanha do Vasco nesta temporada não tem nada de “épica”, “histórica”, muito menos “heroica” ou “grandiosa”; tampouco corresponde a um “acontecimento incomum”, infelizmente.
Então, como exprimir com palavras um misto de sentimentos que tomou conta dos corações vascaínos, como bem ressaltou ontem nosso colunista Rodrigo Machado: medo, frustração, nervosismo, Alívio!?
Ainda tentando me recuperar do drama de domingo e já que comecei o texto de hoje falando sobre poemas épicos, recorro-me a alguns clássicos da literatura brasileira para traduzir em versos a “via-crucis-maltina”:
– Nos dias que antecederam o último jogo do Vasco no campeonato, Rodrigo, sempre ele, observou em “A mesma pedra no meio do caminho!” que o Ceará voltaria a ser o obstáculo para a redenção do Gigante da Colina, o que me fez lembrar de Drummond:
“Nunca me esquecerei desse acontecimento
Na vida de minhas retinas tão fatigadas
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
Tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho”(“No meio do caminho”, Carlos Drummond de Andrade)
– Aí chegou o dia decisivo e Rafael Cordeiro nos brindou com seu esperançoso texto “A HORA DE SE TER FÉ !!!”, embora, consciente, tenha ressaltado que o eventual rebaixamento implicaria o “triste fim do Clube que amamos”. Isso me remeteu a Lima Barreto, se compararmos a grandiosidade da História do Vasco e o anacronismo de suas gestões políticas à saga do anti-herói Policarpo Quaresma:
“O grande inconveniente da vida real e o que a torna insuportável ao homem superior é que, se se transferirem para ela os princípios do ideal, as qualidades tornam-se defeitos, de modo que, muito frequentemente, o homem completo tem bem menos sucesso na vida do que aquele que se move pelo egoísmo ou pela rotina vulgar.”
(“O triste fim de Policarpo Quaresma”, Lima Barreto)
– Durante o jogo, ao ver o time em campo acovardado, sem criatividade e jogando mais com o relógio do que com a bola, como que conformado com a pequenez que alguns ímpios dirigentes vascaínos insistem em lhe querer rascunhar à alma, lembrei-me imediatamente de Augusto dos Anjos:
“Acostuma-te à lama que te espera; o Homem, que nesta terra miserável mora, entre feras, sente inevitável necessidade de também ser fera”.
(“Versos Íntimos”, Augusto dos Anjos)
– Por fim, quis o destino – sim, ao seu sabor Valentim o abandonou com sua tática de renúncia ao futebol – que, ao menos desta vez, o drama de mais uma iminente queda se encerrasse com um suspiro de alívio: escapamos! Comemorar o quê? Machado de Assis tem a resposta mais icônica:
“Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas.”
(“Quincas Borba”, Machado de Assis)
Fonte: dicio.com.br
/+/ Saudações Vascaínas/+/
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