Era para ser um dia de festa. Afinal, meu Vasco iria decidir a Taça Guanabara contra o Fluminense, no Maracanã, relembrando meus gloriosos tempos de infância. E quantas foram as glórias alcançadas nesse palco.
Era para ser um dia perfeito, pois invertia o meu papel de criança dessa mesma infância, com o meu filho, companheiro de emoções nos estádios brasil a fora.
Era dia de domingo, de futebol, de final. De vestir nossa camisa favorita e seguir em direção ao estádio e torcer, incentivar, vencer ou perder. Mas, fundamentalmente, de honrar as tradições, as cores, o hino e o amor indescritível que um verdadeiro vascaíno sente.
Mas a semana nos fez entender que nada seria fácil. Foi dirigente incitando a torcida à guerra e colocando a culpa nos outros (clube, federação e consórcio), como se sua prosa, por si só não se caracterizasse em crime de incitação à violência; foi dirigente entrando na justiça pedindo para não ter torcida, apenas pelo fato de seus vaidosos desejos não serem atendidos; e foi Juiz decidindo com o coração e não com a razão. Para que estudou, então?
É, quis a mente dos vaidosos dirigentes do futebol brasileiro (sim, brasileiro, porque o RJ não possui essa exclusividade), que fosse um dia de dúvidas, medo e tensão. Que fosse um dia onde o torcedor mais uma vez foi ignorado e, ao invés de ser protegido por antecipação, teve que apanhar mais uma vez, como se o erro fosse dele.
Eu e meu filho fomos provas presenciais de que a torcida estava ordeira, alegre, entusiasmada e esperançosa de que os seres desumanos que estão por trás das canetas, estivessem fazendo suas reuniões pensando nas pessoas, nas vidas, na segurança e não em suas vaidades. Mas não, o Brasil não foi feito para quem age por precaução. Só agem após a tragédia (das barragens, dos incêndios, dos hospitais e dos tumultos em jogos).
Ninguém decide nada, pois tem MEDO de perder o cargo, de ser multado ou de ser processado. O Brasil, decididamente, é comandado por covardes, que ficam atrás de mesas, enquanto pessoas de verdade sofrem.
Conversávamos com os policiais, sempre cordiais, e profissionais de imprensa, com o intuito de recebermos alguma informação que pudesse antecipar uma decisão de ficar ou ir embora. Mas o que percebemos, foi uma unânime vontade de fazer o certo pelos homens da lei. Os policiais desejavam com todas as suas forças, que os engravatados liberassem a entrada do público. Sabiam o risco iminente de confronto. Tinha hora marcada.
Entretanto, os mesmos policiais, só poderiam atuar de forma reativa. Estavam com as mãos presas. Incapazes de mudar o rumo da tragédia.
E, como se previa, aconteceu. Com a lavada de mãos do Juiz do Tribunal do torcedor, o confronto aconteceu. E infelizmente, eu e meu filho, por segurança, sucumbimos e fomos embora. Não antes sem ver cenas lamentáveis. Mas nosso objetivo era o de ver futebol, não o de brigar.
De casa vimos, com surpresa, os portões serem liberados, a torcida ainda presente, entrar e recuperar o dia de decisão, mesmo com sabor amargo pelo que acontecera. Dentro de campo, vimos um Fluminense com muita posse de bola e apenas duas boas oportunidades.
O Vasco, por sua vez, estudou os movimentos do adversário e foi montando sua estratégia minuto a minuto. Mesmo não fazendo uma partida primorosa e mostrando que ainda não está pronto para almejar voos mais altos, mostrou pela primeira vez, que pode usar a inteligência para mudar uma partida.
Valentim, embora tenha optado erradamente por Bruno Cesar, claramente sem ritmo para jogar uma partida importante, fez acertadamente as substituições, que colocaram a saída de bola tricolor bastante em apuros. O que foi suficiente para usarmos uma arma recuperada, que estava ausente na temporada passada, a bola parada. E foi assim que o gol do título aconteceu, mais precisamente dos pés de Danilo Barcelos.
Após a partida, a torcida presente teve uma recompensa mais do que merecida, com direito a festa, cantos e volta olímpica. Algo impensável no início da partida.
Como lição, podemos dizer que quando assistimos duas torcidas adversárias, em tom uníssono, bravejar a plenos pulmões, contra apenas uma diretoria, não precisamos descrever ou provar para mais ninguém, quem realmente estava com a razão.
Que todos entendam que o mais importante para o futebol, é que os torcedores estejam presentes. O lado não importa. Aliás, após a confusão, a torcida provou isso. Ninguém estava preocupado com o lugar onde iria sentar. Foram muitos adversários sentando lado a lado.
Finalmente, espero, sinceramente, que a diretoria tricolor abra os olhos, respeite seus torcedores, e de uma vez por todas, volte a escrever sua própria história, que pare de querer ser quem não é e nunca será. O Brasil está mudando e não há mais espaço para viver apenas de canetadas. É muito feio.
Saudações Vascaínas
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