Nelson Rodrigues escreveu um livro cujo título cunhou uma expressão popular à época de sua publicação, nos anos 1950: “O óbvio ululante”. Esse termo significa uma ideia que é tão evidente, que chama tanta atenção de todos quanto o uivo (ulular) de um lobo.
É “o óbvio ululante” que, como qualquer clube grande do nosso futebol que porventura também esteja amargando anos de humilhações por jejuns de títulos e vitórias sobre rivais, o Vasco da Gama somente vai se reconstruir quando conseguir montar um time digno de suas tradições, com jogadores que honrem a camisa cruz-maltina, não apenas por sua qualidade técnica, mas pela garra, traduzida em suor, sangue e lágrimas deixadas sobre o gramado de São Januário.
Mas, como em muitos segmentos da sociedade, no futebol – e, mais ainda, no futebol brasileiro –, nada acontece num passe de mágica, ou pela simples boa vontade de quem quer que seja.
Usemos, então, o exemplo do nosso próprio arquirrival que, na última quinta-feira, nos impôs mais um jogo na já ingloriosa fila de resultados negativos contra ele. O Flamengo, até bem recentemente, era um clube grande gerido por amadores. Era sua torcida (e o apreço de boa parte da mídia, é verdade) quem o sustentava porque, afogado em dívidas impagáveis e administrações levianas (pra usar um eufemismo), o Rubro-Negro se conformava em ganhar campeonatos cariocas, em contraponto aos vexames nacionais e internacionais (o Vasco já foi assim, no início da década de 1990).
Vejamos esse time: FELIPE; LÉO MOURA, CHICÃO, WALLACE E ANDRÉ SANTOS; AMARAL, ELIAS, LUIZ ANTONIO E CARLOS EDUARDO; PAULINHO E HERNANE.
Um “catadão” de jogadores já veteranos, de pouca visibilidade ou, no máximo, jovens promissores, que vinha fazendo vergonha contra os “Athleticos e Américas do México da vida”, até que, depois de eliminar o então poderoso Cruzeiro da Copa do Brasil de 2013, mais na vontade do que na técnica, ganhou moral, chegou à final e faturou o título (no Brasileirão, foi apenas o 11º colocado). Coincidentemente, naquele mesmo ano, Bandeira de Mello fora eleito Presidente do Flamengo, com a promessa de reformular as finanças do clube e, num prazo de 2 a 3 anos, tentar montar um time mais competitivo em nível nacional. Hoje, a atual gestão colhe os frutos do “saneamento” feito à época e então bastante criticado por ser lento e aparentemente improvável.
Agora vamos para o final de 2020. Se já estivéssemos com Vanderlei Luxemburgo desde o início da temporada, não acho improvável que o Vasco conseguisse ter sido o campeão da Copa Sul-Americana, cujo vencedor foi aquele time mequetrefe do Defensa & Justicia, que nos eliminou com um gol bizarro, em São Januário. Com a conquista, mesmo amargando péssima campanha no Brasileirão, estaríamos classificados pra Libertadores e, muito provavelmente, o clima seria outro. Também temos em comum o fato de que um novo Presidente foi eleito e promete reformular o clube, ainda que a montagem de um time competitivo demore mais tempo.
Ninguém quer esperar. Eu não aguento, também. É vergonha atrás de vergonha. Mas eu quero acreditar. Nada vai ser feito da noite pro dia. O importante é que o time jogue com o espírito do segundo tempo de anteontem, do primeiro tempo contra o Atlético-MG. Se isso acontecer, não vamos cair. E então, acredito que um novo cenário começará a ser apresentado.
/+/ Saudações Vascaínas /+/
Podcast: Play in new window | Download
Subscribe: RSS
Deixe uma resposta