Nessa semana, em meio à apresentação do atacante Luís Fabiano e a indefinição do local do clássico entre Vasco e Flamengo, eis que surge o presidente vascaíno Eurico Miranda roubando a cena com declarações de efeito e atitudes de manda-chuva, começando com falas polêmicas na apresentação do “Fabuloso” e finalizando com sua postura concernente à semifinal.
Quem não gargalhou vendo um trecho da entrevista com os presidentes de Flamengo e Fluminense na FERJ onde ele exigiu uma nova cadeira para sentar?
Um dirigente à moda antiga, que quando aparece para falar sempre rende boas entrevistas. Desde quando ingressou na política vascaína, seu Eurico sempre esteve envolvido em polêmicas. Em 1969, o presidente do Vasco da Gama era Reinaldo de Matos Reis, que não agradava à maioria dos conselheiros, mas que era defendido por Eurico, então já Vice-Presidente de Patrimônio. Foi realizada uma reunião na sede náutica do clube, na Lagoa Rodrigo de Freitas, para decidir a cassação do seu mandato. Porém, houve uma falha de energia e a reunião foi adiada. No dia seguinte, o jornal O Globo publicou uma fotografia que mostrava uma mão desligando o quadro de energia. O título da reportagem era: “A mão de Eurico”. Eurico entrava assim para a história e para a política ativa do clube.
Apesar da mão de Eurico, Reinaldo de Matos Reis acabou por perder a presidência. Assumiu Agarthyno da Silva Gomes, então vice-presidente, em mandato interino até o fim de 1970. Eurico mais tarde passou a participar da administração de Agarthyno, apoiando-o. Porém, em 1976, passou para a oposição do clube e apoiou a candidatura de Medrado Dias. O seu candidato acabou perdendo as eleições. Nesta época, Eurico ainda mantinha um escritório de advocacia, mas cada vez mais se dedicava à política vascaína.
Em 1979, foi formada a chapa União Vascaína, que contava com Olavo Monteiro de Carvalho, Pedro Valente, Alberto Pires Ribeiro, Amadeo Pinto da Rocha e Antônio Soares Calçada, para além de Eurico Miranda. O grupo foi batizado de “Seis Homens de Ouro” e tinha como objetivo assumir a presidência do clube, há 10 anos entregue a Agathyrno. O objetivo foi alcançado e, em 1980, Alberto Pires Ribeiro tornou-se o 40º presidente da história do clube e Eurico passou a ser o seu assessor especial, sendi nomeado representante do clube na FERJ.
Eurico apareceu na mídia com força em 1980, ao trazer de volta do Barcelona o ídolo do clube, Roberto Dinamite, que estava “apalavrado com o Flamengo”. Conta a história que ele “encheu o bolso” do Roberto de dólares para que retornasse ao cruzmaltino. Isso deu a Eurico mais poder político e, nas eleições para presidência referente ao triênio 1983-1986, Eurico separou-se dos “Seis Homens de Ouro” e concorreu contra outro membro do grupo, Antônio Soares Calçada. Perdeu. Três anos mais tarde, voltou a concorrer, para mais uma derrota frente a Antônio Soares Calçada.
Antônio Soares Calçada decidiu então convidar Eurico para assumir o cargo de vice-presidente do departamento de futebol. Como vice-presidente, Eurico esteve envolvido na venda de Romário para o PSV em 1988 e, no ano seguinte, na compra do Bebeto, ídolo do rival Flamengo.
Apesar de ser vice-presidente, Eurico aparentava gozar de mais poder político que o próprio presidente Antônio Soares Calçada, que tinha uma personalidade mais calma. A sua posição política aumentou com a conquista do campeonato Brasileiro de 1997 e da Taça Libertadores da América em 1998, entre muitos outros títulos em diversos esportes, no bem-sucedido ano do Centenário do clube. Ele foi também responsável pela parceria do clube com o Bank Of América, que investiu US$ 150 milhões e criou a Vasco da Gama Licenciamentos (VGL). Eurico permaneceu como vice-presidente de futebol até Antônio Soares Calçada terminar o seu último mandato, quando voltou a concorrer à presidência, 14 anos após a sua última tentativa. Desta vez, Eurico alcançou a presidência com o apoio de Calçada. Foi reeleito em 2003 e afirmou que seria o seu último mandato,mas acabou por concorrer novamente.
A partir de seu segundo mandato, sua imagem como dirigente começou a se desgastar e encontrar forte resistência em meio às torcida, devido aos sucessivos insucessos do Vasco nas competições das quais participava. Nas eleições para o mandato de 2007-2009, Eurico concorreu contra o antigo ídolo do clube, Roberto Dinamite. Eurico venceu por uma pequena diferença de 439 votos, mas foi acusado de compra de votos e adulteração do resultado das eleições. A oposição moveu duas ações judiciais questionando o resultado. Com as eleições subjúdice, presidiu o clube interinamente até meados de 2008, quando por determinação da Justiça, foram realizadas novas eleições, cuja realização Eurico tentou de todas as maneiras impedir, chegando até mesmo a interditar o calabouço, uma das sedes do clube onde as mesmas seriam realizadas. Por fim, sem saída, aceitou o novo pleito, porém recusou-se a se candidatar novamente indicando em seu lugar o Benemérito e amigo de longa data, Amadeu Pinto da Rocha. Por fim, a chapa a qual apoiava acabou por perder, pondo fim a mais 40 anos de influência direta de Eurico no executivo vascaíno.
Em 11 de Novembro de 2014, é novamente eleito Presidente com a chapa Volta Vasco, Volta Eurico. A eleição foi recorde no clube e Eurico obteve mais de 50% dos votos, derrotando as chapas compostas por Julio Brant e Edmundo e a chapa de Roberto Monteiro. Em sua campanha, usou como foco principal a volta do respeito ao Vasco da Gama.
Conhecido por suas bravatas, sendo a mais conhecida a de que o Vasco não cairia para a segunda divisão com o seu comando, Eurico viu o time realizar um primeiro turno pífio, acumulando 13 pontos no Campeonato brasileiro. Manteve o discurso de que o Vasco não cairia em seu mandato, mas no dia 06 de Dezembro de 2015, viu o Vasco ser rebaixado pela terceira vez em sua gloriosa história.
Nesse breve histórico, observamos a ascenção, queda e o ressurgimento de um personagem importante dentro da história vascaína, haja vista que as principais conquistas e dissabores do clube tiveram ele na “linha de frente”. Amado por uns, odiado por outros, Eurico Miranda é um daqueles dirigentes que quando abre a boca traz todos os holofotes para ele. Seus inimigos e profetas, com teorias de conspiração, dirão que ele seria um flamenguista infiltrado em território vascaíno. Podemos achar que suas práticas estão ultrapassadas, que seus métodos de trabalho são amadores, porém todas as vezes que ele abre a boca, todos param para ouvi-lo (independentemente da paixão clubista) e, diferentemente do presidente antecessor, que trabalhava “para o bem do futebol carioca” e afundava mais o clube, o Seu Eurico trabalha para os interesses vascaínos. Com seu jeitão de chefão de máfia, Eurico pode não ser o presidente dos sonhos de boa parte da massa cruzmaltina, mas, com seu jeito fanfarrão, mantém o Vasco no foco da atenções. Só não vê quem não quer!
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