É sabido por todos que mesmo em pleno século XXI, o racismo é algo presente no futebol. Mesmo com a FIFA e as Confederações fazendo um trabalho de conscientização, casos ainda acontecem nos gramados e também fora dos gramados.
Casos de discriminação racial fazem parte da história do futebol desde que o esporte chegou ao Brasil. No início, o esporte adotado pela elite excluiu os negros. No Brasil, em alguns clubes eles eram proibidos de jogar até a década de 1950, como no caso do Grêmio.
“Ao longo do século XX, o negro foi se inserindo, mas sempre com um lugar bem definido dentro da estrutura esportiva futebolística: como atleta, mas raramente como dirigente ou técnico”, afirma o professor Ribeiro.
O racismo não aparece somente nas partidas. A exclusão também está enraizada na própria estrutura do futebol. “Ao contrário do que algumas pessoas defendem, esse esporte não é um espaço onde prevalece a democracia racial. A democracia racial no futebol é um mito. Um exemplo disso é que negros e mestiços encontram-se sub-representados na estrutura de poder do futebol. As funções mais elevadas continuam reservadas aos integrantes de uma elite majoritariamente branca”, argumenta o professor Alves Filho.
Se, por um lado, a discriminação racial é menos forte do que em outras épocas, por outro ela ocupa hoje mais espaço na mídia. “O racismo era mais evidente em outras épocas, porém hoje existe uma consciência maior da repercussão de uma atitude como essa, e também temos uma legislação que coíbe esses atos”, diz o pesquisador Silvio Ricardo da Silva, do grupo de estudos sobre futebol e torcidas da Universidade Federal de Minas Gerais.
“O racismo presente no futebol é o mesmo presente na sociedade. Ele precisa ser entendido e enfrentando num plano mais amplo, e não apenas num segmento específico. Temos que mostrar às novas gerações que o Brasil é um país miscigenado, e que esse aspecto é uma herança positiva, responsável pela formação da nossa gente. Temos que ensinar as crianças que ninguém deve ser avaliado pela cor da sua pele”, defende o professor Alves Filho.
Nas arquibancadas, também nítido isso, para o historiador Luiz Carlos Ribeiro, da Universidade Federal do Paraná, o ato de torcer em meio a uma multidão faz com que sentimentos que são controlados no convívio social cotidiano acabem expostos. Assim, o racismo presente na sociedade acaba aparecendo nos gramados.
“O racismo existe na sociedade, não é uma patologia do futebol, é uma doença social presente em toda a sociedade”, reforça o pesquisador, que coordena o grupo de estudos Futebol e Sociedade da universidade. No êxtase da torcida, alguns torcedores parecem se esquecer que estão num lugar público e, sentindo-se protegidos pelo anonimato, acabam tendo atitudes que normalmente não teriam.
“O futebol funciona como uma ‘válvula de escape’ para uma minoria de torcedores. As frustrações da vida cotidiana, como desemprego, moradia precária, desassistência nas áreas da saúde e educação, notícias sobre corrupção, levam uma parte da torcida a se manifestar agressivamente no estádio, onde essas pessoas acreditam estar protegidas pelo anonimato”, afirma o jornalista Manuel Alves Filho, do grupo de pesquisas e estudos de futebol da Unicamp.
E na semana passada, algo passou meio despercebido da grande mídia. O zagueiro Paulão do Vasco da Gama numa entrevista coletiva ao ser provocado por um repórter se a perseguição da torcida contra ele advinha por causa de sua “cor”, o mesmo corroborou com a opinião e se vitimizou. O interessante a notar é que o último clube (Internacional) de Paulão assim como o atual, tem uma história de luta por negros e operários, clubes forjados no meio do povo, pelo povo e para o povo. Não tem como negar que o racismo existe no futebol, todavia soou muito estranho a declaração do zagueiro num momento onde vem mal e perseguido por parte da torcida.
Vivemos numa época de vitimismo social, muitas pessoas tem se aproveitado disso, precisa-se ter muito cuidado, pois muitas incoerências são vistas. O último grande zagueiro do Vasco foi Dedé, um negro, adorado pela torcida POR SEU DESEMPENHO EM CAMPO, cabe também salientar que o maior goleiro de nossa história é negro. A declaração de Paulão não condiz com a realidade. A torcida do Vasco o critica pelo fraco desempenho. Tomou merecidas vaias no jogo contra a LA U após tomar um drible “de pelada” e logo após sair o gol. Nós gostaríamos que Paulão se tornasse um ídolo, porém pela “qualidade” demonstrada até agora, tem feito jus as vaias. Para nós vascaínos pouco importa a cor, somos todos pretos e brancos, somos todos Vasco. Pra nós o que importa é a qualidade do jogador!
A você, Paulão, um lembrete, a semente de resistência plantada pelo Vasco da Gama num passado não muito distante rende frutos hoje, onde a mistura entre brancos e negros fez do Brasil o país do futebol, a chamada pátria de chuteiras. A atitude do Vasco foi pioneira e importante para a afirmação das classes populares no futebol, onde jogar bola tornou-se um sentimento de unidade nacional sem distinção de classe ou de cor.
OBS: Segundo o setorista Fred Huber, Paulão ficou preocupado com a repercussão de suas declarações. Ele, que foi perguntado sobre a questão racial durante a entrevista deste sábado, faz questão de ressaltar que estava se referindo a toda sua carreira, e não especificamente a esta semana no Vasco.
(+) Saudações Vascaínas (+)
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