No futebol é comum falar da importância da torcida para o êxito de um clube. A torcida é o pulmão de um time. Seja em momentos bons ou ruis, é ela quem dá o suporte necessário para um time. A relação do torcedor com seu time sempre teve traços de religiosidade e de absurdo completos. Tertuliano (um dos pais da Igreja) sentenciou “creio porque é absurdo”, eu lhe dou contornos futebolísticos: “torço porque é absurdo”. Mesmo com as incontáveis derrotas vexatórias, com a relação mediada pela televisão e os noticiários, com o discurso do “ópio do povo” latejando na garganta dos mais eufóricos, nada e nem ninguém apresentou até agora um sistema lógico que fizesse alguém parar de torcer por seu clube.
E estendo essa convicção a todos os torcedores de todas as agremiações, porque eles são feitos da mesma matéria imprecisa e, em certo sentido, mesmo que as músicas, as cores e as palmas sejam diferentes, todos eles desejam se dissolver na massa torcedora, ter a sua voz e grande parte de seus desejos compartilhados por milhões em determinado tempo e espaço.
Nós vascaínos, somos uma torcida diferenciada, há anos sofrendo com a decadência do clube, porém sempre estamos à postos a ajudar o Vasco. Isso é histórico, pois no passado, os torcedores cruzmaltinos se mobilizaram para construir um estádio que fosse grandioso, instituindo assim uma chamada “vaquinha”, pois sem mecenas para ajudar o clube, centenas de humildes funcionários de bares, operários, caixeiros e membros da colônia portuguesa deram o que tinham para ajudar. Porém para erguer o estádio de São Januário no terreno que fora cedido por D. Pedro I à sua amante, a Marquesa de Santos, o clube teve que enfrentar vários obstáculos. O próprio presidente da República, Washington Luís não permitiu ao Vasco importar cimento belga, como fora feito na construção do Jockey Club. No Brasil, ainda não se fabricava o material com boa qualidade. Apesar das adversidades, São Januário foi inaugurado em tempo recorde. A pedra fundamental foi lançada pelo prefeito do Rio, Alaor Prata, em junho de 1926.
Depois de dez meses, o Vasco se gabava por possuir o maior palco da América com capacidade para quarenta mil espectadores. Mais que isso, um marco na construção civil do país. Levantado pelos arquitetos Christian e Nielsen, a obra se valeu de 6.600 barris de cimento e 252 toneladas de ferro, para dar sustentação, misturou-se assim uma pá de cimento com duas e meia de areia e três de pedra britada. Houve quem desconfiasse da segurança da marquise, que para muitos o projeto do arquiteto Ricardo Severo era arrojado demais, no entanto a construção se mantém de pé até hoje. Sua inauguração ocorreu em 21 de Abril de 1927, num jogo entre Vasco e Santos, vencido pela equipe paulista por Cinco a Três (5×3).
Com seu estádio pronto, o Vasco definitivamente entrava para a história desse país, por ser um clube eminentemente popular, que quebrou todas as barreiras preconceituosas da época abrindo assim para uma classe excluída da sociedade a oportunidade de ingressar no futebol e melhorar de vida. A semente de resistência plantada pelo Vasco num passado não muito distante rende frutos hoje, onde a mistura entre brancos e negros fez do Brasil o país do futebol, a chamada pátria de chuteiras. A atitude do Vasco foi pioneira e importante para a afirmação das classes populares no futebol, onde jogar bola tornou-se um sentimento de unidade nacional sem distinção de classe ou de cor.
Um clube popular, grandioso, moldado e ajudado por seus torcedores, tem nela o seu MAIOR PATRIMÔNIO. Mais um ano de “reconstrução” nesses últimos dez anos, e o Vasco precisará como sempre de sua apaixonada e gigante torcida. Quarta que vem, começaremos a primeira batalha na terceira fase da pré-libertadores. Precisamos fazer da nossa casa o caldeirão de outrora e carregar a equipe no colo como sempre fizemos com o Gigante ao longo da história.
(+) Saudações Vascaínas (+)
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