Todo mundo sabe que não se faz futebol sem ídolos. Um clube de futebol para ser considerado grande precisa ter em sua gloriosa história ídolos que transcendam a mesmice e levando o clube às conquistas. O que se discute hoje no futebol brasileiro é a escassez de ídolos, jogadores identificados com seu clube e relevantes serviços prestados. Para alguns, o ídolo não precisa ser craque, mas ter apenas uma forte identificação com a camisa que veste. Para outros, somente os jogadores considerados “diferentes” podem receber tal alcunha.
Numa sociedade que valoriza o vencedor, a vitória, a ascensão, impondo um padrão de comportamento que reconhece o mais forte e o mais habilidoso, aquele que chegar ao topo servirá como exemplo para os demais. Assim, ambos são figuras tidas como
modelos para aqueles que os admiram. Mas do herói admiram o feito e do ídolo admiram a vida ou a imagem que ele representa. Para se ter um ídolo, é preciso ter quem os idolatre. No futebol isso se estabelece na tríade ídolo-torcida-clube. Torcida e clube determinam o espaço de atuação da imagem de um jogador; e seu tempo de permanência na equipe, o vínculo necessário para o nascimento de uma admiração por seus feitos. A aproximação do clube com o torcedor é em grande parte estabelecida pelo papel do ídolo. É ele quem faz o elo, quem aproxima a massa do espetáculo. Quando um jogador, além de realizar grandes feitos, demonstra fidelidade para com a identidade do clube, tende a aproximar-se mais ainda do torcedor, já que ambos compartilham da mesma ideologia. O torcedor por sua vez propende a admirar mais o jogador com tal postura.
Defender as cores de um mesmo time durante anos possibilita ao atleta atingir marcas até então nunca conseguidas. Bater o recorde de partidas disputadas, ser o maior artilheiro da história do clube ou do estádio do clube, geralmente são condições conseguidas por aqueles que criaram um vínculo duradouro com o clube. Isso faz com que o jogador se torne parte do patrimônio do clube. Em alguns casos esse vínculo se torna tão forte que a presença do ídolo pode transcender o clube e sua imagem passa a não depender mais dele. Tal fato acontece quando os torcedores vão aos jogos motivados não somente para ver o seu clube jogar, mas também para ver seu ídolo. Quantos vascaínos não foram ao Maracanã ou a São Januário para ver Barbosa, Ademir, Roberto (meu pai o amava), Romário, Edmundo, Juninho dentre outros?
Hoje no Brasil, esses vínculos estão cada vez mais escassos, pois os jogadores que se destacam migram cada vez mais rápido para os grandes centros futebolísticos, talvez aí resida a dificuldade em se criar vínculos e automaticamente novos ídolos. De modo geral, a referência do ídolo para o clube/torcida tem um tempo cada vez mais curto, salvo algumas raras exceções. Mas a imagem projetada, não só pelos jogadores, mas por todos aqueles que reproduzem e transformam o futebol em um fato social, é uma das responsáveis por alimentar o sonho de um dia ocupar o lugar que hoje é do ídolo. A presença do ídolo na infância representa e reforça a importância dessas figuras dentro do processo de formação do imaginário.
Hoje, alguns clubes brasileiros com pouco poder financeiro investem em jogadores veteranos para suprir a carência de bons valores. No Vasco, a aposta recaiu sobre Luís Fabiano, (que até hoje não disse a que veio e está longe se ser um ídolo da torcida) e Nenê.
Devido a essa escassez, qualquer jogador comum se transforma em ídolo no Brasil hoje em dia, mesmo sem criar um vínculo duradouro. Passam a receber uma veneração que não merecem. Um clube pode ficar anos sem ganhar títulos importantes, porém se tiver ídolos que influenciem de alguma forma, consegue sobreviver, porém um clube sem títulos importantes e sem ídolos, sucumbe mediante ao tempo. Talvez por isso os clubes passam a promover alguns jogadores à condição de ídolos (mesmo que não mereçam), pois sabe o retorno que têm quando se idolatra um de seus atletas.
Hoje no Vasco, têm dois jogadores considerados ídolos da torcida, o goleiro Martín Silva e o meia Nenê. O primeiro é quase “intocável” para a torcida, mesmo que não seja um goleiro excepcional. Para a torcida vascaína, Martín é quase um “deus”. Criticá-lo é um dos pecados imperdoáveis dignos de inquisição. Talvez a carência de anos nessa posição levaram o torcedor a venerar o uruguaio dessa forma. Para muitos o rebaixamento de 2015 foi por por falta de goleiro com qualidade, haja vista que Alessandro, Diogo Silva e Michel Alves contribuíram bastante para a derrocada vascaína naquela temporada. Já Nenê nunca foi um jogador considerado “craque” em sua carreira, mas ganhou a veneração da torcida pelo seu desempenho em campo. Desde 2015, é o jogador mais lúcido que vestiu a camisa cruzmaltina. A carência de ídolos, tem levado a torcida vascaína a idolatrar jogadores comuns e a se acostumar com a mediocridade, é duro falar isso, mas é a mais pura verdade.
Russinho, Jaguaré, Barbosa, Ademir, Danilo, Ipojucan, Belini, Vavá, Jair, Almir, Roberto, Romário, Edmundo, Felipe, Juninho e Ramon foram importantes por levar gerações de brasileiros a torcerem pelo Vasco da Gama, será que Martín Silva e Nenê tem essa capacidade? Reflitam!
(+) Saudações Vascaínas (+)
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