Pelo colaborador e futuro colunista Pedro Carvalho de Almeida
Foi difícil. Eu sentia junto com os jogadores a falta de oxigênio. Eu sentia o desespero aumentar a cada minuto e confesso estar tão perdido quanto os navegantes dessa nau vascaína de 2018. O confronto na altitude seria difícil, já sabíamos disso; seria perigoso, o tempo da bola é diferente e o ar simplesmente não entra nos pulmões, mas também já sabíamos disso; só não poderíamos saber que a incompetência de um clube poderia ser tamanha.

Ali, sentado no conforto de casa, me senti transportado para 4 anos atrás, vendo Muller abrir o placar contra nossa Seleção. Dois gols em menos de dez minutos de jogo deixariam qualquer torcedor comum desesperado e louco para desligar a TV de uma vez, afinal temos que trabalhar na manhã seguinte. Mas não, somos fanáticos, e decidimos dar mais uma chance para esse gigante da colina.

Fomos enganados. A lateral direita, já abalada pelos dois primeiros lances, decidiu abrir a porteira para o terceiro gol da equipe boliviana. Ali meu marca passo já dava sinais de falha, minhas unhas já sangravam de tanto roê-las e metade dos móveis já estavam quebrados de tanto que bati neles. Nossa vantagem tão merecida em São Januário foi reduzida a um gol de diferença em apenas 15 minutos na altitude.

A partir do 16º minuto de jogo, saíram do vestiário os jogadores do Vasco da Gama, e finalmente entraram em campo com a dedicação de um jogo-treino contra o Íbis Sport Club. Conseguimos segurar aquele resultado até o finalzinho do segundo tempo, mas a aparente falta de vontade da zaga de atuar em conjunto resultou no pior pesadelo de qualquer time brasileiro: ir pros pênaltis na casa do adversário.

Notem que nesse momento eu já me acorrentara à cama para não correr o risco de sair na rua agredindo cidadãos de bem após tamanha incompetência.

Em um momento tão delicado quanto esse, realmente só um homem poderia nos ajudar: San Martín, protetor das redes vascaínas. O nome do jogo, defendeu três cobranças com serenidade e garantiu o Clube de Regatas Vasco da Gama na fase de grupos da Libertadores da América 2018. Nesse momento eu gritei, bati na parede, quase rasguei a camisa de tanto beijar a cruz de malta em meu peito, e rolaram como água lágrimas desses olhos tão desacostumados com vitórias em competições internacionais.

Dos 90 minutos, fica a lição de que essa competição não é o Cariocão que os jogadores estão acostumados. Não se pode fazer corpo mole por alguns minutos para compensar outros (ouviu, Evander??), não se pode andar em campo sem pressionar o adversário (tá bom, Rios??), e muito menos não dar combate quando necessário (ai a lista já se alonga pois teremos que citar 90% do time). O dever de casa de Zé Ricardo – que não teve culpa alguma no jogo, a falha coletiva dos que estavam em campo não deve e nem irá afetar a confiança que temos no treinador – é preparar o grupo para as pedreiras que virão a seguir. Temos Racing, Cruzeiro e Universidad de Chile para enfrentarmos em seis jogos dificílimos e é hora de aprendermos com nossos erros.

Que San Martín tenha misericórdia dessa nação vascaína.

Extra 1: Queria muito ver mais um gol do lateral artilheiro Yago Pikachu, mas aparentemente não havia estoque suficiente de Pedras do Trovão na bagagem.

Extra 2: O jovem Evander Ferreira, 19 anos, se encontra em estado de emergência após a partida contra o Jorge Wilstermann. Pedimos para todos os torcedores que tiverem entre 17 e 59 anos que doem um pouco de sangue para o jovem poder seguir sua carreira como jogador profissional. Ou não.

Extra 3: É pedir demais que derrubemos a estátua de Romário e ergamos a de Martín ainda esse ano?