O título dessa coluna tem por objetivo chamar a atenção do torcedor vascaíno para uma reflexão. Nós, torcedores apaixonados pelo Vasco, vivemos uns seis anos na penúria pois, desde 2012, o cruzmaltino não consegue montar um elenco competitivo para disputar as competições nacionais e internacionais com possibilidade de êxito. Essa “seca” criou um sentimento, uma torcida, a “vascarente”. Como o próprio nome diz, ela é movida pela carência que sente o torcedor vascaíno. Pra quem iniciou o século vendo Helton, Mauro Galvão, Juninho Pernambucano, Juninho Paulista, Euler, Romário, dentre outros, e conquistando títulos, o presente século trouxe consigo uma escassez de bons times e títulos. Ídolos? Raríssimos. Salvo os anos de 2011 e 2012, não tivemos nenhum motivo para comemorar.
Não é de hoje que a torcida vascaína tem invadido as redes sociais de jogadores especulados a vestir nossa armadura para “forçar” a vinda deles. Todavia cabe uma pergunta: Essa carência se dá somente pela falta de ídolos?
Ao se referir sobre ídolos em sua obra O Atleta e o Mito do Heroi, Kátia Rubio disse: “Numa sociedade que valoriza o vencedor, a vitória, a ascensão, impondo um padrão de comportamento que reconhece o mais forte e o mais habilidoso, aquele que chegar ao topo servirá como exemplo para os demais. Assim, ambos são figuras tidas como modelos para aqueles que os admiram”.
Do ídolo, admiram a vida ou a imagem que ele representa. Para se ter um ídolo, é preciso ter quem os idolatre. No futebol isso se estabelece na tríade ídolo-torcida-clube. Torcida e clube determinam o espaço de atuação da imagem de um jogador; e seu tempo de permanência na equipe, o vínculo necessário para o nascimento de uma admiração por seus feitos. A aproximação do clube com o torcedor é em grande parte estabelecida pelo papel do ídolo. É ele quem faz o elo, quem aproxima a massa do espetáculo. Quando um jogador, além de realizar grandes feitos, demonstra fidelidade para com a identidade do clube, tende a aproximar-se mais ainda do torcedor, já que ambos compartilham da mesma ideologia. O torcedor por sua vez propende a admirar mais o jogador com tal postura.
Hoje no Brasil, esses vínculos estão cada vez mais escassos, pois os jogadores que se destacam, migram cada vez mais rápido para os grandes centros futebolísticos. Como a lógica estabelecida é a do rodar e os vínculos se tornam transitórios, o atleta de futebol moderno se tonou um “jogador andarilho”. De modo geral, a referência do ídolo para o clube/torcida tem um tempo cada vez mais curto, salvo algumas raras exceções. Mas a imagem projetada, não só pelos jogadores, mas por todos aqueles que reproduzem e transformam o futebol em um fato social (parafraseando Durkheim), é uma das responsáveis por alimentar o sonho de um dia ocupar o lugar que hoje é do ídolo. Com isso, a referência do ídolo alimenta o imaginário da geração que o substituirá, contribuindo para a reposição cíclica das figuras idolatradas. Aqueles que ficaram para trás no tempo, permanecem restritos a lembranças, falas e fotos daqueles que um dia os viram jogar. As imagens tornam-se escassas e por isso eles são substituídos constantemente. Isso é rotina. Não dá nem tempo de lamentar uma perda. No mundo futebolístico mercantilizado, o próximo ato é buscar logo outro para suprir a ausência/saída. Não existe missa de sétimo dia, aliás, nem dá tempo.
Respondendo a pergunta que lancei no segundo parágrafo de forma sucinta, observo que a torcida vascaína não é somente carente de ídolos, mas de bons jogadores que possam levar o clube ao caminho das vitórias e conquistas como sempre foi em sua história centenária. Invadir o Instagram do jogador (comum) Gino Peruzzi é apenas a pontinha do iceberg do problema. A Vascarente existe, e num grito desesperado clama por jogadores de qualidade. Não se busca apenas o ídolo, mas a representatividade e o protagonismo que anda em falta há pelo menos seis anos.
Essa torcida merece ser feliz! Que o ano de 2019 a carência acabe e a “Vascarente” fique apenas numa lembrança que espero não ter saudade.
(+) Saudações Vascaínas (+)
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